quarta-feira, 10 de março de 2010

Tem que correr, tem que correr...

Juro que pensei que estava sendo assaltada. Em plena luz do dia, duas mãos masculinas fortes, urgentes, me pegaram pelos ombros. Elas vieram do nada, pelas minhas costas, e quase me derrubaram na calçada na rua Visconde de Pirajá, perto da praça General Osório. "Pronto, chegou a minha vez", pensei. Todo brasileiro que se preze já foi assaltado em algum momento na vida. Não há razão para acreditar que só eu seja poupada dessa praga nacional.

Mas de repente aquelas mãos me soltam e duas pernas passam ríspidas por mim, desaparecendo em seguida no meio de pedestres, vendedores ambulantes e camelôs.

Um silêncio estranho toma conta da calçada, enquanto sacolas, toalhas, chapéus, relógios, óculos e panos de todas as cores esvoaçam ao meu redor.

Por trás de mim ouço o toc-toc de um par de botas que se aproximam, num compasso decidido. O guarda civil chega impecavelmente fardado, o cassetete preso à cintura. Os camelôs desaparecem dali como mágica. Vejo relógios que se esparramam no asfalto.

Uma mulher franzina se atrapalha e, de tão nervosa, não consegue desmontar a banca de papelão nem guardar as bolsas de plástico que está vendendo. Sem apressar o passo, o policial alcança a mulher com facilidade e, visivelmente contrariado, avisa em voz baixa à transgressora incômoda: "Tem que correr, tem que correr..."

Alguém pragueja contra o policial. Ele finge que não ouve e se afasta, arrastando sem vontade pela calçada aquele amarrado de bolsas de plástico.

Pois é, a mulher perdeu. Mas, também, quem mandou? O aviso do policial foi claro: "Tem que correr, tem que correr..."

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