
Mas de repente aquelas mãos me soltam e duas pernas passam ríspidas por mim, desaparecendo em seguida no meio de pedestres, vendedores ambulantes e camelôs.
Um silêncio estranho toma conta da calçada, enquanto sacolas, toalhas, chapéus, relógios, óculos e panos de todas as cores esvoaçam ao meu redor.
Por trás de mim ouço o toc-toc de um par de botas que se aproximam, num compasso decidido. O guarda civil chega impecavelmente fardado, o cassetete preso à cintura. Os camelôs desaparecem dali como mágica. Vejo relógios que se esparramam no asfalto.
Uma mulher franzina se atrapalha e, de tão nervosa, não consegue desmontar a banca de papelão nem guardar as bolsas de plástico que está vendendo. Sem apressar o passo, o policial alcança a mulher com facilidade e, visivelmente contrariado, avisa em voz baixa à transgressora incômoda: "Tem que correr, tem que correr..."
Alguém pragueja contra o policial. Ele finge que não ouve e se afasta, arrastando sem vontade pela calçada aquele amarrado de bolsas de plástico.
Pois é, a mulher perdeu. Mas, também, quem mandou? O aviso do policial foi claro: "Tem que correr, tem que correr..."
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