segunda-feira, 17 de maio de 2010

Dançando na serra

Passei o fim de semana dançando, na serra de Itaipava. Deixa eu me explicar melhor: onde se lê "dançando" leia-se "celebrando a vida". Foram três dias de muita atividade física coreografada, mas também de muitas risadas, conversas, partilhas, boa comida, banhos de cachoeira...  Voltei da serra cheia de energia, pronta para enfrentar a semana rodopiando internamente com uma alegria quase infantil.

Tudo isso aconteceu num workshop de Nia - uma técnica de dança desenvolvida há cerca de trinta anos na Califórnia, que logo se espalhou pelos Estados Unidos. Em Itaipava, éramos um grupo de doze mulheres - duas americanas e oito brasileiras - das quais eu não conhecia ninguém no primeiro encontro na quinta-feira à noite, num bonito clube campestre da região. 

"Nia" significa oficialmente Neuromuscular Integrative Action - um nome pomposo que explica pouco. Prefiro a versão irreverente que alguém deu à definição desta dança divertida, que mexe ao mesmo tempo com o corpo, a cabeça e as emoções da gente: No Inhibitions Allowed ("Nenhuma Inibição Permitida").  Acho que a definição pirata revela melhor o espírito desta dança, que me cativou completamente desde a primeira vez que a pratiquei em Nova York, em 2001, pouco tempo depois de ter me mudado para lá, ainda praticamente sem amigos e sem entender direito onde me encaixar naquela ilha.

O  "mandamento" número um desta técnica diz tudo: Joy of movement. Encontrar alegria nos movimentos do corpo é condição essencial  para a prática do Nia. A gente tem que "ouvir" o que o nosso corpo nos diz, antes de tentar transmitir qualquer coisa com ele. A expressão dos nossos movimentos é consequência desta sintonia do corpo com o coração e a cabeça - coisa que (imagino eu) aquelas bruxas maravilhosas da Idade Média deviam conhecer bem. Pois eu rapidamente me encontrei nesta dança. De repente, Nova York passou a fazer sentido para mim e acabei viciada na alegria.

Desde que voltei a morar no Brasil, há dois anos e meio, nunca mais pratiquei Nia, nem sequer ouvi falar nesse nome. Apesar de ter nascido e sido criada aqui, o Brasil tem sido para mim um país estranhamente fascinante, que ainda tento decifrar no dia a dia. Trato de me adaptar ao meu "novo" país como outras vezes o fiz em terras estrangeiras. Ou seja, se aqui não tem aulas de Nia, tudo bem: vou procurar minha turma, praticar outros esportes, remar na lagoa, caminhar na praia e ser feliz de outras formas. Por isso, foi com enorme surpresa que, no mês passado, bati com os olhos num pequeno anúncio afixado no quadro de avisos de uma academia de yoga em Itaipava: estavam abertas as inscrições para um workshop de Nia, liderado por uma instrutora americana de North Carolina, que estaria viajando para cá especialmente para dar este curso. Quase não acreditei! Fui a primeira a fazer a inscrição.

Dançar Nia novamente foi como "voltar para casa". Conhecer aquelas pessoas através da dança foi como reencontrar amigas de infância.

Mas o que mais me emocionou neste fim de semana foi um momento completamente inesperado. Foi quando estávamos todas reunidas em um círculo e a professora nos pediu que disséssemos, uma de cada vez, alguma coisa - qualquer coisa! - que nos trouxesse alegria na vida. Era uma brincadeira simples, um convite ao sorriso. "Amigos!", disse a primeira. "Comida!", disse a segunda. "Dança!", lembrou outra.

Quase no final do círculo, ouvi alguém dizer baixinho, com grande delicadeza: "Brasil". Levei um susto. Recebi aquilo como um grande soco no meu coração, que me desmontou completamente.  "O Brasil me faz sentir alegria", repetiu a voz delicada daquela brasileira, que vive há muitos anos no exterior. Senti meus olhos se encherem de lágrimas. 

Naquele momento deixei que o Brasil me abraçasse e senti uma imensa gratidão por estar de volta ao meu país.


2 comentários:

angela disse...

Parabéns Monica pela chance de ter vivido o NIA.Eu participei de uma "demonstração" em janeiro desse ano aqui no Rio e, sentí, que NIA podia mudar a minha vida. Infelizmente me inscrevi mas, não pude comparecer. Você vai publicar também, algumas fotos do encontro?
Um abraço,
Angela Maia

Monipin disse...

Angela, fiquei surpresa em saber que houve uma demonstração de Nia no Rio, em janeiro desse ano. Onde foi isso? Gostaria muito de entrar em contato com as pessoas que a organizaram! Acho que é apenas uma questão de tempo para que o Nia chegue ao Brasil, pois a energia dessa dança tem tudo a ver com o nosso jeito brasileiro de ser. Em geral as pessoas que buscam a técnica do Nia têm muita coisa em comum e os grupos se formam em clima de grande harmonia. Continue buscando, que você com certeza acabará encontrando o seu grupo de Nia. Eu também estou procurando pelo meu!
Com alegria,
Monica