Antes do sol nascer, Paulo Roberto de Andrade já está lá firme, praticando remo na sede náutica do clube Botafogo, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Aos 48 anos de idade, cabeça grisalha e jeitão descontraído, Paulo se destaca dos jovens atletas que remam neste horário. Mas o que realmente o distingue dos demais é uma alegria contagiante, quase infantil, que ele transmite a cada passada dos remos na água. Remar é uma atividade que obviamente o faz sentir feliz.
"Bom dia!", grita ele de longe, sem parar de remar, assim que reconhece algum amigo olhando em sua direção.
Já no píer, suado e sorridente, Paulo cumprimenta cada um dos remadores que encontra pelo caminho, sempre pronto a ajudá-los a colocar seus barcos na água ou a guardar os remos usados.
Todos no clube sabem do seu entusiasmo por esportes. Ele participa de quase todas as maratonas e provas de natação promovidas no Rio de Janeiro. Em julho passado, contrariando todas previsões médicas, Paulo completou a maratona da cidade com o auxílio de muletas, quando ainda se recuperava de um acidente. Não ganhou medalhas, mas em compensação recebeu uma profusão de aplausos, beijos e abraços de um público emocionado.
O que poucos sabem é que, na vida profissional, Paulo se dedica a provas muito mais duras que competições esportivas. Ele é policial militar do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), força especial de combate ao crime em áreas de alto risco do Rio de Janeiro.
A ideia de se tornar policial surgiu aos doze anos de idade, quando viu o pai ser assassinado a tiros durante um assalto perto da casa onde moravam, no bairro carioca de Santo Cristo. A morte do pai trouxe mudanças radicais e imediatas na sua vida. O mais velho dos seis filhos, Paulo teve que tomar conta dos irmãos menores, para que a mãe pudesse trabalhar como faxineira. Pouco tempo depois, também ele teve que procurar emprego e, desde então, não parou mais de trabalhar. Já fez um pouco de tudo: foi office-boy, entregador, tratorista, brigadista de paraquedismo da Aeronáutica. "Nunca fiquei desempregado em minha vida", afirma Paulo. Para garantir maior segurança, resolveu prestar concurso para a Polícia Militar no final dos anos oitenta. Foi assim que Paulo ingressou na Companhia Independente de Operações Especiais (CIOE), órgão precursor do BOPE, que seria criado em 1991.
No âmbito familiar, o destino lhe reservava surpresas extraordinárias, dignas de um romance. A médica oftalmologista Suzana Limmer, que mais tarde viria a ser sua esposa, entrou na vida de Paulo por causa de uma de suas irmãs, que tinha um problema de estrabismo grave. A menina foi levada ao seu consultório pela mãe, mas na época não pôde ser operada por questões financeiras. Foi somente anos mais tarde que a médica voltou a vê-la, desta vez num hospital de Madureira, onde a cirurgia pôde ser finalmente realizada. Suzana, que hoje também rema no Botafogo, relembra o momento em que viu o futuro marido pela primeira vez: "Eu estava saindo do centro cirúrgico onde tinha acabado de operar a irmã de Paulo. Quando abri a porta e o vi na antessala, ansioso e aflito, aguardando o final da cirurgia, pensei comigo mesma: Que rapaz lindo!"
Naquela época, a ideia de que os dois pudessem vir algum dia a se casar parecia absurda. Suas trajetórias de vida pareciam não ter nada em comum. Suzana era médica, recém-casada, havia sido criada na Zona Sul carioca e a primeira vez que foi a Madureira foi quando começou a trabalhar nesse hospital. Paulo, por sua vez, sempre viveu no subúrbio, teve que enfrentar todos os tipos de dificuldades na vida e não tinha conseguido completar um curso superior. Novas coincidências, entretanto, fizeram com que seus caminhos voltassem a se cruzar. Suzana teve um filho, Pedro, mas em seguida se separou do marido. Logo veio a transferência de seu trabalho para Nilópolis, onde morava a família de Paulo. Quando menos esperavam, Paulo e Suzana se apaixonaram e, em 1992, resolveram se casar.
Alguns anos depois, Pedro ganhou um irmão com o nascimento de Bruno, hoje com dezesseis anos. Foi por causa do Bruno que Paulo começou a remar no Botafogo. "Eu vinha sempre trazê-lo de carro e ficava esperando por ele na beira da Lagoa, observando o pessoal remar", conta Paulo. "Um belo dia, um dos instrutores, o Dragão, me convidou para remar um pouco no tanque e eu gostei da experiência, apesar de não ter tido grande sucesso no começo. Acho até que bati um recorde mundial: eles me fizeram praticar dois meses no tanque antes de me permitirem remar qualquer barco na Lagoa!"
Hoje Paulo rema seu canoe por todos os lados da Lagoa, sem problema. Com frequência ele é visto praticando largadas curtas junto ao píer, voltando sempre ao mesmo lugar. "Gosto deste exercício, porque sempre tive muita dificuldade para remar em linha reta. Acho que agora já melhorei bastante!"
Persistência parece ser mesmo uma de suas qualidades mais marcantes. Há poucos anos resolveu aprender a nadar para se recuperar de um problema na perna causado por um tiro durante uma operação policial. Além de ter ficado bom da perna, conseguiu também vencer o medo que sentia de nadar em mar aberto e agora participa de quase todas as competições de travessias marítimas no Rio de Janeiro. "Chego a ser chato quando quero alguma coisa que considere realmente importante", diz ele. Já depois de casado, voltou a estudar e formou-se em Fisioterapia. "Agora temos outro doutor na nossa família", brinca Suzana, orgulhosa do marido.
"Sou um homem feliz", diz Paulo. "Tenho saúde, uma esposa maravilhosa, dois filhos ótimos." E resume: "Família é tudo na vida de um homem."
O que poucos sabem é que, na vida profissional, Paulo se dedica a provas muito mais duras que competições esportivas. Ele é policial militar do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), força especial de combate ao crime em áreas de alto risco do Rio de Janeiro.
A ideia de se tornar policial surgiu aos doze anos de idade, quando viu o pai ser assassinado a tiros durante um assalto perto da casa onde moravam, no bairro carioca de Santo Cristo. A morte do pai trouxe mudanças radicais e imediatas na sua vida. O mais velho dos seis filhos, Paulo teve que tomar conta dos irmãos menores, para que a mãe pudesse trabalhar como faxineira. Pouco tempo depois, também ele teve que procurar emprego e, desde então, não parou mais de trabalhar. Já fez um pouco de tudo: foi office-boy, entregador, tratorista, brigadista de paraquedismo da Aeronáutica. "Nunca fiquei desempregado em minha vida", afirma Paulo. Para garantir maior segurança, resolveu prestar concurso para a Polícia Militar no final dos anos oitenta. Foi assim que Paulo ingressou na Companhia Independente de Operações Especiais (CIOE), órgão precursor do BOPE, que seria criado em 1991.
No âmbito familiar, o destino lhe reservava surpresas extraordinárias, dignas de um romance. A médica oftalmologista Suzana Limmer, que mais tarde viria a ser sua esposa, entrou na vida de Paulo por causa de uma de suas irmãs, que tinha um problema de estrabismo grave. A menina foi levada ao seu consultório pela mãe, mas na época não pôde ser operada por questões financeiras. Foi somente anos mais tarde que a médica voltou a vê-la, desta vez num hospital de Madureira, onde a cirurgia pôde ser finalmente realizada. Suzana, que hoje também rema no Botafogo, relembra o momento em que viu o futuro marido pela primeira vez: "Eu estava saindo do centro cirúrgico onde tinha acabado de operar a irmã de Paulo. Quando abri a porta e o vi na antessala, ansioso e aflito, aguardando o final da cirurgia, pensei comigo mesma: Que rapaz lindo!"
Naquela época, a ideia de que os dois pudessem vir algum dia a se casar parecia absurda. Suas trajetórias de vida pareciam não ter nada em comum. Suzana era médica, recém-casada, havia sido criada na Zona Sul carioca e a primeira vez que foi a Madureira foi quando começou a trabalhar nesse hospital. Paulo, por sua vez, sempre viveu no subúrbio, teve que enfrentar todos os tipos de dificuldades na vida e não tinha conseguido completar um curso superior. Novas coincidências, entretanto, fizeram com que seus caminhos voltassem a se cruzar. Suzana teve um filho, Pedro, mas em seguida se separou do marido. Logo veio a transferência de seu trabalho para Nilópolis, onde morava a família de Paulo. Quando menos esperavam, Paulo e Suzana se apaixonaram e, em 1992, resolveram se casar.
Alguns anos depois, Pedro ganhou um irmão com o nascimento de Bruno, hoje com dezesseis anos. Foi por causa do Bruno que Paulo começou a remar no Botafogo. "Eu vinha sempre trazê-lo de carro e ficava esperando por ele na beira da Lagoa, observando o pessoal remar", conta Paulo. "Um belo dia, um dos instrutores, o Dragão, me convidou para remar um pouco no tanque e eu gostei da experiência, apesar de não ter tido grande sucesso no começo. Acho até que bati um recorde mundial: eles me fizeram praticar dois meses no tanque antes de me permitirem remar qualquer barco na Lagoa!"
Hoje Paulo rema seu canoe por todos os lados da Lagoa, sem problema. Com frequência ele é visto praticando largadas curtas junto ao píer, voltando sempre ao mesmo lugar. "Gosto deste exercício, porque sempre tive muita dificuldade para remar em linha reta. Acho que agora já melhorei bastante!"
Persistência parece ser mesmo uma de suas qualidades mais marcantes. Há poucos anos resolveu aprender a nadar para se recuperar de um problema na perna causado por um tiro durante uma operação policial. Além de ter ficado bom da perna, conseguiu também vencer o medo que sentia de nadar em mar aberto e agora participa de quase todas as competições de travessias marítimas no Rio de Janeiro. "Chego a ser chato quando quero alguma coisa que considere realmente importante", diz ele. Já depois de casado, voltou a estudar e formou-se em Fisioterapia. "Agora temos outro doutor na nossa família", brinca Suzana, orgulhosa do marido.
"Sou um homem feliz", diz Paulo. "Tenho saúde, uma esposa maravilhosa, dois filhos ótimos." E resume: "Família é tudo na vida de um homem."