quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Ai, que saudades do Millôr!

Tem gente que parece ter nascido só para nos cutucar e desafiar. O genial jornalista, cartunista, escritor, filósofo, tradutor Millôr Fernandes, era dessas pessoas. Ainda hoje suas frases nos surpreendem como um tiro certeiro no intelecto. Em vez de dor, o que vem depois do disparo é quase sempre uma deliciosa gargalhada.  Eu, pelo menos, me acabei de rir na 12a Festa Literária Internacional de Paraty (realizada de 31 de julho a 3 de agosto), relembrando as incríveis tiradas do Millôr, o homenageado deste ano. Algumas delas:

"O Homem é o macaco que não deu certo."

"Basta um avião sacudir um pouquinho mais e logo todos os passageiros ficam parecidos com a foto do passaporte."

"Quando todo o mundo quer saber, é porque ninguém tem nada a ver com isso."

"Chato é uma pessoa que não sabe que 'Como vai?' é um cumprimento e não uma pergunta."





Foi uma farra deliciosa a mesa de debates intitulada "O Guru do Méier", com três jornalistas e cartunistas que trabalharam com o Millôr: Claudius, Sergio Augusto e Cássio Loredano.



Com a correta mediação do jornalista Hugo Sukman, poucas vezes vi na Flip um painel de debatedores de qualidade tão equilibrada, cada qual com seu estilo próprio e todos contribuindo de forma relevante à discussão.  Muito mais do que vontade de dar risada com as tiradas do Millôr, o que de fato senti neste debate foi uma enorme saudade de suas charges geniais, que tantos problemas lhe trouxeram na época da ditadura militar.

Ah, que falta nos faz hoje um Millôr em nossos jornais e revistas, principalmente nestas semanas que antecedem as eleições - insuportável festival de déjà-vus, platitudes e canalhices. Suas reflexões permanecem atuais como nunca:


"Democracia é quando eu mando em você. Ditadura é quando você manda em mim."

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

"Os comunistas são contra o lucro. Nós somos apenas contra os prejuízos."

"Está bem. Deus é brasileiro. Mas para defender o Brasil de tanta corrupção, só colocando Deus no gol."

Ei, pessoal! O rei está nu! Você não viu? Então olhe de novo. Com Millôr, voltamos a enxergar a vida com olhos de criança e a agudeza do seu desconcertante espírito crítico, sempre "livre como um táxi".



2 comentários:

Paulo Ricardo Gadelha Pinheiro disse...

Além das frases e charges, eu gostava muito das fábulas. O mano Roberto me mandou uma antológica, a do passarinho preso no estrume. O que é bom fica pra eternidade.

JCFCerqueira disse...

Monica,
Como sempre adorei seu texto. Sempre leve e delicioso. Continue acumulando forças para escrever um livro. Estou certo que ele virá.
Abs,
Cerqueira