Mas a coisa que mais me cativa no ambiente da Flip é a consciência de estar no meio de pessoas que gostam de ler e trocar idéias umas com as outras. São pessoas dispostas a desacelerar o ritmo da loucura cotidiana para ouvir o que outras tem a dizer. Isso parece valer também para os palestrantes convidados da Festa. A gente tem a impressão de que eles não estão ali só para exibir vaidosamente seus predicados intelectuais, mas para aprender uns com os outros também. A maior parte deles não discursa: simplesmente conversa com a gente.
No meio de tantas estrelas do meio literário e acadêmico - como Isabel Allende, Salman Rushdie, Ferreira Gullar, Moacyr Scliar, Azar Nafisi - fica difícil falar de um ou de outro sem cometer omissões incômodas. Mas não vou esconder aqui minha preferência deslavada por um palestrante relativamente pouco conhecido do grande público - o bibliotecário, professor e escritor Edson Nery da Fonseca, que participou da mesa que abriu os debates sobre a obra de Gilberto Freyre, o homenageado do ano.
Aos 88 anos de idade, ele se locomove com dificuldade e precisa se amparar em outras pessoas para subir ao palco. Mas, quando começa a falar, o brilho nos olhos desse pernambucano arretado empolga qualquer platéia, refletindo o intelecto vigoroso e entusiasmado que muitos jovens gostariam de ter. No ano passado, ele já me havia emocionado com a interpretação inspirada de uns quantos poemas do Manoel Bandeira, de quem foi contemporâneo e amigo, e cuja obra literária ele conhece como poucos. Este ano, Nery repetiu o show, recitando de cor um poema delicioso de Gilberto Freyre (de quem, aliás, ele também foi amigo), chamado "Bahia de todos os santos e de quase todos os pecados". Foram seis minutos de puro deleite. Quando ele finalmente se calou, a platéia toda o aplaudiu de pé.
A Flip frequentemente nos surpreende com momentos mágicos como esse, nem sempre registrados pela grande imprensa. Food for thought, diriam os ingleses. No banquete literário de Paraty, os pratos do cardápio são internacionais, mas o tempero - não tenho dúvida - é bem brasileiro. Ainda bem.
3 comentários:
Fiquei com uma vontade danada de ir no proximo ano ...
Voce e' uma marketeira das boas!
Beijos,
Marina
Monica querida,
Tambem eu fiquei com uma vontade ' arretada' de ir no proximo ano. Professor Nery eh um orgulho para nos pernambucanos. Mas, vivendo tao longe... foi com muita alegria que soube, atraves de sua cronica, que ele esta aqui, vivinho e brilhando entre nos. A sua lucidez contradiz as ultimas conclusoes em pesquisas sobre a falta de correlacao entre atividade intelectual e a prevencao da perda da memoria. Adorei ler sua cronica, Monica, e estou enviando o link para seu blog para amigas pernambucanas que estao de malas prontas para irem a Parati e Flip. Vou ficar feliz de continuar lendo seus escritos. beijos, Virginia
Se eu já tinha vontade de conhecer a Flip, depois de ler seu texto ficou quase impossível não estar lá em 2011.
Bom poder encontrar você aqui na rede!
Beijos.
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