Em que planeta distante vivemos os brasileiros? Mandei um email para Carol, minha boa amiga americana, com umas fotos do nosso desfile na Marquês de Sapucaí, acompanhadas de um parágrafo onde tentei resumir o significado do carnaval para os brasileiros e o desfile das escolas de samba no Rio. Achei que estava tudo explicado ali. Na mesma hora recebo a resposta, polida e econômica, como convém a uma novaiorquina educada: "What fun." (Assim mesmo, sem ponto de exclamação!) Em seguida ela pergunta, entre curiosa e gentil, o que eu queria dizer com a expressão "samba school" - seria uma espécie de "dance academy"?
Oh, my God! E agora? "Academia de dança!" Era só o que faltava... Diga, espelho meu: por onde é que eu começo a explicar o significado do "maior show da Terra"? Me dá até preguiça, só de pensar...
Tenho bons motivos para estranhar essa pergunta da Carol. É que ela não é apenas uma amiga americana. É uma pessoa com quem eu sempre tive grande prazer em conversar e trocar idéias sobre os assuntos mais variados quando vivia em Nova York. Trabalhávamos juntas no Metropolitan Museum of Art, tínhamos muitos interesses comuns, fazíamos parte do mesmo clube de leitura. Eu gostava especialmente do seu refinado senso de humor e sutileza de observação. Sempre achei que falávamos a mesma linguagem.
O que foi que aconteceu com a nossa comunicação depois que me mudei de volta ao Brasil? Cadê minha amiga Carol?
Cadê eu?
O que me consola é a maneira com que Carol termina seu email, ainda que sem ponto de exclamação: "You look so happy."
E termino a leitura do email da minha amiga, cantarolando de novo aquele samba enredo que não me sai da cabeça: "Diga espelho meu, se há na avenida alguém mais feliz que eu!"
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Ontem, quarta-feira de Cinzas, os jurados escolheram a pirotecnia inovadora da Unidos da Tijuca, com seus shows de mágica e um Batman esquiando ladeira abaixo na avenida. Fiquei decepcionada, porque achei que a Unidos de Vila Isabel fez uma homenagem ao Noel Rosa irretocável, emocionante, imbatível. Enfim...
O Carnaval tem dessas coisas. Ano que vem tem mais. E se Deus quiser estarei lá, defendendo a gloriosa União da Ilha! Skindô, skindô!